Crônicas de Braz Miranda de Sá - “É AKI KI NÓIS BEBE”

“É AKI KI NÓIS BEBE” 

Era um desses dias quentíssimos, entrei num bar, numa cidade do interior de São Paulo, para tomar refrigerante.
Assentei-me num banquinho, ao lado do balcão, ergui os olhos em direção à parede e vi uma plaquinha, muito bem escrita, com os dizeres, entalhados na madeira.
“É aki ki nóis bebe”.
Fiquei admirado com aqueles signos linguísticos, pois eu entendera bem o significado, embora a ortografia e a concordância estivessem às avessas.
Curiosamente comecei a observar as pessoas que entravam e saíam.
O bar era sortido de variadíssimas espécies de bebidas, desde a cachaça com raízes, até os mais sofisticados whiskies.
Coisa incrível, ali não havia distinção de classe social, e todos compareciam para tomar seu aperitivo, batendo papo descontraído, dialogando sobre política, discutindo futebol, contando piadas engraçadas.
Fiquei imaginando, como um dono de bar, semi-analfabeto, conseguia reunir pessoas de todos os níveis, inclusive intelectuais, que também frequentavam aquele recinto. Encucou-me uma coisa:
“É aki ki nóis bebe”.
Seria esta simples frase, mal escrita, o motivo de tanta influência e amizade?
Anotei-a e a coloquei no bolso.
Que legal! Passei a gostar da idéia.
Observei a alegria transitória no rosto de cada um que ali chegava.
Durante minha permanência em Rio Claro, não deixei de frequentar aquele bar, atraído pela frase.
Fiz novas amizades e “entrei na deles”, como diziam.
Que experiência fantástica!
Quando regressei à minha cidade, trouxe uma grata recordação.
Nunca mais me esqueci desse fato.
Ainda não consegui entender, na psicologia de grupo, como pode acontecer entrosamento, entre pessoas desconhecidas, por um simples signo linguístico, desafiando as teorias culturais antropológicas e a sociologia.
Sei, apenas, que todos entendiam a mensagem: “CONFRATERNIZAÇÃO” e “AMIZADE”, num encontro singelo, num bar, nas horas de folga, nos feriados, aos sábados, aos domingos.
E ali havia uma concreta motivação:
“É AKI KI NÓIS BEBE”.
                                                                                                                               
Braz Miranda de Sá - dezembro de 2000

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