O Brasil amargava o ocaso da ditadura militar que se instalara em 64 no auge da Guerra Fria. Foram anos negros em que a constituição de 46 foi suspensa, o Presidente afastado, o Congresso dissolvido, Atos Institucionais (17 e 104 complementares) postos em prática e, entre eles, o infame AI-5. Assim o Estado Democrático de Direito foi abolido e estudantes, intelectuais e lideranças políticas contrários ao Regime foram perseguidos, exilados, combatidos e uma infinidade de militantes se tornaram desaparecidos.
Direitos civis foram violados, a imprensa e as artes censuradas e a mídia controlada exaltando um pretenso Ufanismo e um Nacionalismo diante da ameaça Comunista.
Embora o Milagre Brasileiro propagado pela Mídia diante de uma década de Crescimento Econômico na casa dos dois dígitos não mais alcançasse apelo popular os militares hesitavam em deixar o poder. Diante de uma cada vez maior concentração de renda e de uma inflação galopante o desgaste era inevitável. Vários atentados se sucederam no ano de 1980 creditados a setores de Direita e Militares Linha Dura. As forças políticas se mobilizaram condenando a onda de atentados que se estabelecera.
Os trabalhadores sindicalizados, especialmente os metalúrgicos da Região do ABC paulista, enfrentavam a ditadura em greves que ameaçavam o senso de poder e controle do Governo. Nesse ambiente surgiu a ideia de se fundar um partido que representasse os trabalhadores e, em 1980, Lula se juntou a sindicalistas, intelectuais, católicos militantes da Teologia da Libertação e artistas para formar o Partido dos Trabalhadores (PT).
Mas a repressão continuava e os meios de comunicação eram calados ou manipulados. Neste contexto, em 1980, surgiu o movimento conhecido como Democracia Corintiana liderado pelo médico atleta Sócrates, o Brasileiro, Casagrande, Wlademir, Biro-Biro (Lero-Lero) e Zenon. Tratava-se de um movimento ideológico onde menos se esperava: no futebol, o Circo anestesiante das massas diante das agruras de uma sociedade agonizante.
Os jogadores se organizaram e passaram a ser ouvidos pela administração do clube em assuntos importantes para a rotina do clube. Surgia um modelo de autogestão onde muitos assuntos eram decididos pelo voto dos atletas. Os tempos de Vicente Mateus ficavam para traz e os maus resultados começavam a ser esquecidos.
Washington Olivetto cunhou o termo Democracia Corintiana e o time passou a estampar em suas camisas frases de cunho político, como "diretas-já", "eu quero votar para presidente". Isso no período da ditadura militar, quando os movimentos sociais começavam a se rearticular para a instituição de uma democracia. O Clube sanou suas finanças e venceu duas edições do campeonato Paulista, mas o movimento desfaleceu com a ausência de resultados a partir de 84.
O grande mérito estava na vanguarda do movimento diante de um quadro reconhecidamente desfavorável. Wlademir, Sócrates e Casagrande integraram a Seleção e se tornaram celebridades. A Itália os recebeu por algum tempo onde não alcançaram o mesmo resultado.
Sócrates e Casagrande seguiram como médico e comentarista esportivo da Rede Globo... O histórico de problemas disciplinares de Casagrande o acompanhava enquanto o Doutor, o Magrão, alcançava os 110 kg. Álcool e drogas os trouxeram novamente às manchetes. Internamentos, coma, acidente e um possível transplante de Figado ante a Cirrose nos deixam apreensivos.
A Ditadura impunha suas leis e sua ordem enquanto a aspirada Democracia nos daria Direito de escolha e uma vida mais Feliz!
Ao menos o direito de Agir e Arcar com a Consequência de nossos Atos!