Palestra de Ricardo Vélez Rodríguez - HORIZONTES PARA O BRASIL (05/02/2012)

HORIZONTES PARA O BRASIL
Ricardo Vélez Rodríguez
Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino soares de Sousa”, da UFJF.
Professor Emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), no Rio de Janeiro.


(Palestra realizada na Academia Apucaranense de Letras, em 05/02/2012)

Prezados acadêmicos: tenho a satisfação de falar neste espaço, atendendo a convite da Academia Apucaranense de Letras, formulado por intermédio do acadêmico e amigo, Dr. Oscar Ivan Prux. Registro, com satisfação, além da sua presença, a do amigo de longa data e acadêmico prof. Dr. Leonardo Prota e sua esposa, Lessy. Registro, igualmente, com alegria, a presença da minha esposa Paula.
O tema que desenvolverei nesta palestra diz relação ao que nós, habitantes de um município brasileiro, podemos esperar do nosso país no ano que se inicia. Quero insistir na inserção municipal, pois é ali onde transcorre a nossa vida do início ao fim. Tudo quanto dizer relação à qualidade de vida deve ser, portanto, referido à circunstância municipal. Dizia Ortega y Gasset: “Eu sou eu e as minhas circunstâncias, e se não as salvo a elas, não me salvo eu”. Ora bem, quero insistir, nesta minha fala, nessa circunstância, a municipalidade, que é inseparável das nossas vidas, porquanto se “não a salvarmos” tampouco garantiremos a qualidade de vida que aspiramos ter.
Dividirei a minha exposição em três itens:

Reunião de 05 de fevereiro de 2012

           Domingo, 05 de fevereiro de 2012, a Academia de Letras, Artes e Ciências Centro norte do Paraná reuniu-se para o início das atividades do ano de 2012 no Centro de Eventos da ACIA em Apucarana.
         Em uma reunião marcada pela emoção em um momento de homenagens à memória da Acadêmica Terezinha Barbosa Guimarães falecida no início deste ano o filósofo Ricardo Vélez Rodríguez versou sobre as Perspectivas do Brasil para 2012 – aspectos políticos, econômicos e Culturais.
         Apresentado pelo Acadêmico Oscar Ivan Prux, Ricardo brilhantemente teceu suas considerações a respeito do Pensamento Brasileiro, sua relação de complementaridade com a América Latina, momento político e Econômico e possibilidades de progresso através de uma racionalização dos conceitos e suas práticas aplicações.
         Colombiano tornou-se o primeiro Mestre e Doutor em Pensamento Brasileiro tornando-se estudioso e conhecedor da realidade brasileira.
         Quando os dados estatísticos apontam para um crescimento substancial da economia elevando o Brasil ao sexto lugar e antevendo sobrepujar a França o inconsciente coletivo poderia gerar falsas verdades. A distribuição de renda e, principalmente, o IDH, nos devolvem ao mundo real mostrando que ainda temos muito a evoluir. Além disso, a educação tem demonstrados resultados pouco produtivos quando nossos alunos são submetidos às avaliações internacionais.
         Professor Ricardo conceituou o Brasileiro como portador de uma patologia que denominou “Vista Cansada Cívica” quando somos capazes enxergar ao longe grandes evoluções e incapazes de observar graves problemas ao seu entorno. Situações de injustiça social, de cidadania, passam despercebidas a esses olhos cansados e desprovidos de uma avaliação crítica.
         Em sua avaliação a solução dos problemas advém de uma sociedade civil organizada e participativa, geradora de princípios e capaz de exercer a necessária atuação política. Desses núcleos de discussão surgiriam as idéias capazes de alavancar o processo de transformação da sociedade e das instituições. Deste modo questiona o Estado centralizador que pretende administrar um país com dimensões continentais e intensa diversidade cultural a partir de Brasília, desarticulando as iniciativas regionais. Apresenta como sugestão político eleitoral o fortalecimento da representatividade (Partidos, Câmaras e Congresso Nacional), a prestação de contas à sociedade pelos eleitos em um sistema de voto distrital que aproxime as autoridades de suas bases.
         O Estado Patrimonial implantado no Brasil, submetido a períodos ditatoriais ainda busca a solução para questões de cidadania. O surgimento da Democracia da Ignorância, da Megalomania e o fortalecimento aparentemente sem limites do executivo acabou se tornando o produto de uma sociedade onde o judiciário ainda precisa se auto-afirmar e a imprensa exercer sua liberdade de forma eficaz e definitiva e a Educação receber um tratamento mais racional.
         O País impõe aos contribuintes uma carga tributária injustificável diante dos benefícios gerados pelos benefícios oferecidos. Embora se discuta o baixo investimento em educação Dr. Ricardo apresenta números que contrariam essa premissa. O País gasta muito e mal! Precisa se reorganizar. Criar um currículo Nacional que respeita as individualidades regionais e oferecer ao cidadão uma verdadeira educação de qualidade.
Se o Dr. Ulisses comemorou a promulgação da Constituição Cidadã em 05 de outubro de 1988 centramo-nos nos direitos do Cidadão pouco enfatizando seus deveres.
         Otimista, eloqüente e muito à vontade diante dos intelectuais da Academia e seus convidados Dr. Ricardo participou de intenso debate durante aproximadamente uma hora apresentando suas expectativas para o Brasil em 2012. Ao final o amigo Leonardo Prota teceu os agradecimentos em nome da Academia ao nobre Palestrante.
         A todos os que se fizeram presentes nossos agradecimentos diante da oportunidade de termos tão ilustre presença no início das atividades de 2012.


Curriculum resumido de Ricardo Vélez Rodríguez
Ricardo Vélez Rodríguez, colombiano naturalizado brasileiro. Doutor em Filosofia pela Universidade Gama Filho. Pós-Doutorado em Ciência Política no Centre de Recherches Politiques Raymond Aron, Paris. Mestre em Filosofia pela PUC do Rio de Janeiro. Licenciado em Filosofia pela Universidade Pontifícia Javeriana, Bogotá (Colômbia). Professor Associado da Universidade Federal de Juiz de Fora. Coordenador, nesta Universidade, do Centro de Pesquisas Estratégicas "Paulino Soares de Sousa". Autor de mais de vinte livros, dentre os que se destacam: A Democracia Liberal segundo Alexis de Tocqueville (São Paulo: Mandarim, 1998), O Liberalismo Francês: A tradição doutrinária e a sua influência no Brasil  (Rio de Janeiro: Topbooks, no prelo), Castilhismo: uma filosofia da República (Brasília: Senado Federal, 2000) e Estado, cultura y sociedad en la América Latina (Bogotá: Universidad Central, 2000), Patrimonialismo e a realidade latino-americana (Rio e Janeiro: Documenta Histórica, 2006), Da guerra à pacificação: a escolha colombiana (Campinas: Vide Editorial, 2010). Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro. Membro do Instituto de Geografia  e História Militar do Brasil, Rio de Janeiro. Professor Emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Rio de Janeiro. Membro do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio, Rio de Janeiro. Membro da Academia Brasileira de Filosofia, Rio de Janeiro. Membro do PEN Clube, Rio de Janeiro. Membro da The Planetary Society (Passadena - Califórnia - USA).




Crônicas de Edson Tavares - CASA DA SOGRA

CASA DA SOGRA

         João Ubaldo soltava um sorrisinho amarelo quando seu velho pai, agora com mais de oitenta, lhe chamava a atenção para as gracinhas de Aninha. A menina em seus terríveis dois aninhos tentava pedalar seu triciclo por entre os móveis e vez por outra passava em frente da televisão.
         Não conseguia livrar-se da raiva que sentia desde o momento em que sua filha, em pleno domingo, vinha almoçar em sua casa e trazia o folgado Genivaldo, seu genro.
         Ficava imaginando a hora de se deliciar com uma tesoura em seus fartos cabelos enquanto dormia em pleno sofá da sala. E todo mundo se acomodava pelo tapete com algumas poucas almofadas.
         E o desgraçado nem mesmo tirava os sapatos.
         Não fosse o bastante, seu Flamengo perdia por dois a zero do Fogão.
         Marilúcia, sua esposa, praguejava na cozinha o leite derramado enquanto socorria Suzana, histérica ao descobrir que queimara o lindo vestidinho rosa da pequena filha.
         __ Na trave! - inconformado berra o Galvão Bueno quando Loco Abreu erra o pênalti em uma fatídica cavadinha.
         Era mesmo demais... Que mais lhe faltava?
         Agora o Vô Antônio botava os pezinhos de Aninha nos pedais e ensinava pacientemente os movimentos.
E sorria...
         “Acho que papai realmente está ficando velho - pensava. É triste ver como as pessoas mudam. Nem parece que até a pouco tempo ainda se levantava cedo e corria pro mercado comigo... Que se preocupava em fechar torneiras gotejantes e apagar luzes em quartos desocupados. Nem mesmo me faz ouvir aquelas histórias de caçadas e casas mal-assombradas”.
         E pensar que a mais de trinta anos estava ali, no batente, cuidando de tudo e de todos.
...
Sequer tivera a sorte de fazer um filho homem - eram três meninas “difíceis e inconseqüentes”, que não sabiam nada da vida!
         “Nada como o tempo - pensava. - No final ainda digo: Bem que eu avisei!”
         ___ E é Gooooooool do Botafogo .....
         Três a zero.                                
         Agora que tudo já estava mesmo consumado não adiantava reclamar. E foi o que João fez: resignou-se após nada menos que duas horas do final do jogo.
         Difícil mesmo era agüentar olhar para a cara do infeliz Genivaldo envolto em seu ócio como se o mundo fosse acabar em sofá.
         “Mas é mesmo um descarado. Não custa nada levantar e ainda pegar o meu carro para sair” - pensava.
         ___ Paiêêêê ..... - gritou lá da rua a bela Lúcia, sua segunda filha, arrastando uma pesada bolsa de viagem.
         Apressadamente João Ubaldo se levantou, correndo receber aquela em quem agora depositava todas as suas esperanças. A menina preparava-se para o vestibular da UEL, mas torrava cada níquel que ganhava. Ainda assim valia a pena. (E já se imaginava na formatura da filha recebendo o canudo de Engenharia).
         Quando chegou ao portão acompanhado por não menos de dez pessoas franziu a testa assustado ao perceber outras três.
         __ Este é Fernando... Esta é a Priscila... E este o Augusto, meu namorado! Eles vieram para passar uns dias com a gente...
         O pobre coitado ameaçava um enfarte. Abraçado com a filha cochichou em seu ouvido - “Não precisava trazer tanta mala, bastava a bolsa!”
         Agora a festa generalizava. Eram abraços e cumprimentos infindáveis e um monte de bagagem para carregar.
         Não precisou muito tempo para que o mais novo candidato a genro estivesse usando seus chinelos após o banho. E só agora pudera observar o brinquinho que o rapaz usava na orelha esquerda.
         __ Isto é demais. Esta menina deve estar fazendo muita festa lá em Londrina e eu já estou vendo tudo... Estudar que é bom, nada. E ainda mais trazendo esse monte de gente. Deve estar pensando que minha casa é hotel. - reclamava reservadamente com sua esposa.
         Quão infindáveis foram aqueles dias...
         Porém, como tudo nessa vida, passaram.
Foram-se todos e prestaram o vestibular. E voltaram...
         Até agora suportara tudo com muita paciência, mas daí a admitir que sua filha acompanhada por um bando de marmanjos aprontasse pelas ruas da cidade, bebendo e gritando em seu próprio carro era inadmissível. E saiu de encontro aos fanfarrões deixando um empregado cuidando do mercado, disposto a acabar com aquela palhaçada.
         Ao se aproximar recebeu um inesperado e apertado abraço de Seu Afonso, o farmacêutico, que o parabenizava.
         __ Ela realmente merece... A gente confiava nela.
         __ Passei, pai... - gritava emocionada Lúcia ao vê-lo tão perto.
         Abraços, beijos e muito choro envolveram pai e filha enquanto o rapaz do brinquinho lhe estendia a mão.
         __ Ele passou em medicina pai...
         Estendendo um largo sorriso João abraçou o menino e disse:
         __ Eu sabia... Acreditava nela... Esperava por este dia!