Durante o século passado, a juventude se caracterizou pela rebeldia embalada na idéia de reformar o mundo. Os estudantes se mobilizaram em protestos contra a falta de democracia durante o período da ditadura, participando ativamente de passeatas na campanha intitulada “Diretas Já”, coloriram seus rostos e como “caras pintadas” organizaram manifestações que exigiram a saída do então Presidente Fernando Collor por atos de corrupção. Todas essas campanhas ajudaram o Brasil evoluir suas instituições.
Atualmente, entretanto, o que se vê: os jovens estudantes estão acomodados, embevecidos com a sociedade de consumo que lhes satisfaz com bens e divertimentos. Exatamente num momento em que o Brasil tanto precisa, eles não se envolvem sequer minimamente. Parece nada ter a ver com eles, o fato do cenário político nacional representar um notório desrespeito para com a população, com escândalos diários no Poder Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Basta dizer que no país, absurdamente existem milhares de cargos comissionados, de nomeação apenas por critérios políticos, caracterizando um sistema de loteamento de determinadas áreas para que algum político ou partido aliado tenha a liberdade de nomear quem desejar, incluindo até corruptos já condenados. Também são criados Ministérios inúteis, dispostos apenas para empregar aliados, cabos eleitorais e apadrinhados políticos. Neles são empossados Ministros que confessam não entenderem nada dos assuntos da área, prática que costuma favorecer ao surgimento de corrupção e muita ineficiência. Veja-se o caso do Ministério da Pesca e Aquicultura, que como vários outros não têm a menor utilidade (se fosse necessário deveria também haver o da carne de frango ou de porco). Para ele foi nomeado Marcelo Crivella, que já como Ministro, num verdadeiro deboche ao povo brasileiro, declarou expressamente que “não sabe colocar uma minhoca num anzol”, assim como sua antecessora Ideli Salvatti, hoje ministra da Integração Nacional, igualmente não sabia (tanta incompetência resulta em que, apesar de possuir o maior número de rios e ter 8000 km de litoral, o Brasil produz pouco peixe, sendo mais fácil encontrar o que vêm da China, do Chile ou do Peru).
Pois bem, essa falta de vergonha somente poderá mudar pela ação da sociedade civil organizada. E neste contexto, o Brasil está se ressentindo muito da omissão dos estudantes em um movimento verdadeiramente reformador. É de lamentar, portanto, que não se perceba neles a vontade de melhorar o país. Suas rebeldias somente têm sido notadas quando se trata de não cumprir regras, nos desrespeitos aos pais, professores e autoridades, ou ainda, quando picham muros e depredam bens públicos. Apesar de alardearem haver imenso poder nas redes sociais nas quais eles gastam muito tempo precioso ao invés de estudar e se dedicar a tarefas mais úteis, não surgem organizações fortes que os representem e façam ações positivas para a melhora dessa realidade. Atualmente, a União Nacional dos Estudantes (UNE) somente aparece nos noticiários quando é para receber verbas públicas ou manter o direito de fornecer e cobrar por carteiras de estudante. Não há busca de objetivos maiores de exercício da cidadania (quando muito, um ou outro estudante em caráter pessoal, participa de alguma ação social ou organização, normalmente filantrópica ou em prol da ecologia). E essa carência que tem dado espaço para existência de um meio político tão “poluído” e instituições com tantas mazelas, inclusive com certas autoridades tomando atitudes imorais sem sentirem o menor constrangimento ou mesmo serem alcançadas pela força da lei e da justiça.
Parece que os jovens de agora vivem em outro mundo, alheios aos problemas que vivenciamos, inebriados que estão com a overdose consumista de divertimentos, da comunicação virtual e de bens fúteis que conseguem com tanta facilidade.
Por isso, essa imensa saudade dos estudantes de antigamente, espécie de “rebeldes do bem”, que realmente acalentavam o sonho de melhorar a sociedade em que viviam e se empenhavam para colocar em prática os seus ideais. Eram milhares que de forma pró-ativa se organizavam e participavam de movimentos que ajudaram a transformar o Brasil.
Pobre do país cuja característica seja ter jovens sem iniciativas, preocupados apenas com seus prazeres imediatistas, centrados substancialmente em interesses e egos pessoais alimentados pela sociedade de consumo.
Oscar Ivan Prux
Advogado, Economista e Professor
Especialista em Teoria Econômica e Doutor em Direito
Coordenador do Curso de Direito da Unopar
Membro da Academia.